domingo, 8 de julho de 2012

História de um ancião



                                                                                                          Contada para toda a comunidade,
 na Colina Sagrada dos seus antepassados, ao lado da fogueira, quando invocavam os espíritos deles para os guiarem.




Houve um tempo em que o Homem sentiu-se só, profundamente atolado em tristeza.

Todos os animais aproximaram-se e disseram:
- Não gostamos de te ver tão triste. Peça o que quiseres e terás.

O homem disse: -Quero ter boa visão.
O abutre respondeu: terás a minha.

O homem disse: -Quero ser forte.
E o jaguar disse: -Serás tão forte como eu.

Depois o homem disse: -Anseio saber os segredos da terra.
A serpente respondeu: - Mostrar-te-ei !

Assim foi com todos os animais.
E quando o homem teve todos os dons que podiam lhe dar, partiu.

Então a coruja disse para os outros animais:
- Agora o homem sabe muito, e conseguirá fazer muitas coisas... Mas de repente temo.

O cervo disse:
- Ele já tem tudo que precisava. Agora a sua tristeza acabará.

Mas a coruja respondeu:
-Não ! Eu vi um buraco no homem, profundo como uma fonte que jamais será saciada. É o que faz ficar triste, e que faz com que ele sempre queira mais.
Continuará tomando e tomando até que um dia o mundo dirá:
- “Eu já não existo. E não fica mais nada para dar”.


História de povos de uma aldeia na selva da América Central, península de Iucatã, antes da colonização espanhola, durante o período da civilização maia.
                                          Foi contada no filme “Apocalypto”.
                              

Um comentário:

  1. legal, Tereza, mostra a voracidade de todo tipo nos dias atuais, principalmente material e virtual tbém... sem espiritualidade nada ameniza o mal estar "do buraco da grande FALTA".

    abçs
    Zoé Vale

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