Pode parecer estranho, mas tenho vivido boa parte
de minha vida só.
Não pense você que não sei compartilhar uma boa
conversa com os outros. Tampouco sou indiferente ao juízo do vizinho.
Muitos diriam que
sou um homem sociável, mas sei que entre uma pessoa e outra há uma
barreira insuperável, que nem os momentos de intimidade familiar e nem os fogos
do desejo conseguem transpor.
Sei que existe o mundo dos outros.. como poderia ignorá-los? Nele transito como um convidado, como cliente
ou como um mero companheiro transitório de uma viagem.
Mas sempre estou comigo, no meu mundo, aberto aos
olhos de meu próximo, poroso e
influenciado por esse outro mundo que está aí fora – o chamado mundo social.
Sou muito diferente de você, por acaso?
Ou você é como uma árvore, com grandes raízes
subterrâneas e galhos e braços abertos apanhando o ar?
Alguma vez pensei que eu fosse um pássaro com grandes
asas e um céu a seu dispor.
Agora sei que apenas sou um homem, sem asas mas
com grande vontade de voar.
E não me
pergunte para onde.
Referencia:
Um desconhecido que perdeu suas anotações num trem.