terça-feira, 25 de outubro de 2011

Se me melhoro, ajudo a todos


Uma pessoa perguntou a Reb Pinchas:
‘ Como posso rezar pedindo para que alguém se arrependa de suas faltas, quando esta oração, se for ouvida nos céus, representa uma clara interferência no livre-arbítrio desta pessoa?’

Respondeu o rabino:

- O que é Deus?  É a totalidade das almas.


Seja lá o que existir no todo, também existe na parte. Portanto, em cada alma, todas as almas estão contidas.

Se eu me transformo e cresço como indivíduo, eu mesmo contenho em mim a pessoa a quem quero ajudar, e esta contém a mim nela.


Minha transformação pessoal ajuda a tornar o ‘ele-em-mim’ melhor e o ‘eu-nele’ melhor também.

Desta forma fica muito mais fácil para o ‘ele-nele’ tornar-se melhor.’

... Nos mundos interiores há uma intercomunicação direta com o outro, sem termos que passar por vários dos meios distorcidos da comunicação. Podemos portanto,  estabelecer mais concórdia através de um trabalho interno de crescimento pessoal do que através da determinação racional ou mesmo de bom senso sobre o que é extremamente justo.

 Talvez tudo isto seja complexo demais para nosso tempo, no qual a compreensão das relações interativas está apenas engatinhando. A ecologia, ainda que de forma grosseira está abrindo caminho para esta nova percepção, que será banal e comum no futuro: o que se faz aqui, reflete lá, porque em última instância, tudo é Um.


...  Impossível aperfeiçoar-nos sem o auxílio do outro que permite nos avaliarmos e buscarmos transformação.






Portanto, não fosse pelo outro-em-mim, dificilmente haveria a consciência do eu-em-mim, e assim por diante. A interação é a geradora do fenômeno da existência.




Porém, tudo isto que não é ainda do nosso tempo fica pendente, à espera da compreensão do futuro. Reconhecemos que não detemos a necessária tecnologia de paz e que, até o desenvolvimento de consciências interativas mais sofisticadas, permaneceremos com dificuldades de avaliar estes  ele-em-mim  e o  eu-nele.


A frase ‘ama ao próximo como a ti mesmo’ é uma mensagem  do futuro, que poderia ser lida como ‘ama o outro em ti mesmo’. O outro é  eu-nele,  eu mesmo sou o  ele-em-mim.




... Na medida em que reconhecemos nossa limitação quanto a poder realmente assumir o lugar do outro e julgá-lo de sua própria posição, abrimos espaço para aproximações.


Comparemos esta fala com o poema de Moreno* sobre o verdadeiro Encontro 


“Vou arrancar meus olhos e os colocarei no lugar dos teus.


Tu arrancarás teus olhos e os colocará no lugar dos meus.


Assim vou te ver com os teus olhos


E tu me verás com os meus.”




Referencia A cabala da inveja-Nilton bonder e Psicodrama, Jacob Levy Moreno*  o criador da terapia Psicodrama

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Autobiografia em cinco capítulos

1
Ando pela rua
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio.
Estou perdido, sem esperança
Não é culpa minha
Levo uma eternidade para encontrar a saída.

         2
Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar
Mas não é culpa minha.
Ainda assim levo um tempão para sair.

           3
Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Vejo que ele está ali
Ainda assim caio... é um hábito.
Meus olhos se abrem
Sei onde estou
É minha culpa.
Saio imediatamente.

          4
Ando pela mesma rua
Há um buraco na calçada.
Dou a volta.


5
Ando por outra rua.



Referência citado em O livro tibetano do viver e do morrer, Sogyal Rinpoche


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Iluminação

O Satori (a iluminação) não é um estado de espírito anormal; não é um transe em que a realidade desaparece.
Não é um estado de espírito narcisista, como que se pode ver em algumas manifestações religiosas.
"A ser alguma coisa – é um estado de espírito perfeitamente  normal".


Se tentássemos exprimir Iluminação em termos psicológicos, eu diria que é o estado em que a pessoa se acha completamente afinada com a realidade fora e dentro de si mesma,
o estado em que ela tem plena percepção dessa realidade e a apreende plenamente.

Ela tem percepção da realidade- não pelo seu cérebro nem qualquer outra parte do seu organismo, mas ela, a pessoa toda.

Tem percepção dela, não como um objeto colocado lá adiante, que se apreeende com o pensamento, mas dela, da flor, do cão, do homem – em sua plenitude.

Aquele que desperta se torna aberto e receptivo para o mundo,
e pode tornar-se aberto e receptivo porque deixou de aferrar-se a si mesmo como a uma coisa e, assim, se tornou vazio e pronto para receber.
Ser iluminado significa ‘o pleno despertar da personalidade total para a realidade’.

Referência Zen budismo e psicanálise  Erich  fromm