Contada para toda a comunidade,
na Colina Sagrada
dos seus antepassados, ao lado da fogueira, quando invocavam os espíritos deles para os guiarem.
Houve
um tempo em que o Homem sentiu-se só, profundamente atolado em tristeza.
Todos
os animais aproximaram-se e disseram:
-
Não gostamos de te ver tão triste. Peça o que quiseres e terás.
O homem disse: -Quero ter boa visão.
O abutre respondeu: terás a minha.
O homem disse: -Quero ser forte.
E o jaguar disse: -Serás tão forte como
eu.
Depois o homem disse: -Anseio saber os
segredos da terra.
A serpente respondeu: - Mostrar-te-ei !
Assim foi com todos os animais.
E quando o homem teve todos os dons que
podiam lhe dar, partiu.
Então a coruja disse para os outros
animais:
- Agora o homem sabe muito, e conseguirá
fazer muitas coisas... Mas de repente temo.
O cervo disse:
- Ele já tem tudo que precisava. Agora a
sua tristeza acabará.
Mas a coruja respondeu:
-Não ! Eu vi um buraco no homem,
profundo como uma fonte que jamais será saciada. É o que faz ficar triste, e
que faz com que ele sempre queira mais.
Continuará tomando e tomando até que um
dia o mundo dirá:
- “Eu já não existo. E não fica mais
nada para dar”.
História de povos de uma aldeia na selva da América Central, península
de Iucatã, antes da colonização espanhola, durante o período da civilização
maia.
Foi
contada no filme “Apocalypto”.