quarta-feira, 25 de abril de 2012

Essência e Personalidade

No sistema em que estudamos em Gurdjjief, o homem está dividido em duas partes:
    Personalidade   e     Essência


A essência é o que é inato no homem. Essência é seu bem próprio, o que é dele. É a base da estrutura física e psíquica do homem. É o dom, a tendência natural.
A personalidade é o que é adquirido. Personalidade é tudo o que pôde ser aprendido de um modo ou de outro – consciente ou inconscientemente.

             
Normalmente, a essência deve dominar a personalidade
 e esta pode ser então muito útil ao homem. 
Mas, quando a personalidade domina a essência, acarreta os piores resultados.
Deve-se compreender que a personalidade é também necessária ao homem. 
Não podemos viver apenas com a essência, sem personalidade.
Mas essência e personalidade devem crescer paralelamente e jamais uma deve prevalecer sobre a outra.

 Casos em que a essência prevalece sobre a personalidade encontram-se entre as pessoas incultas, esses homens simples – podem ser boníssimos e até inteligentes, mas são incapazes de desenvolver-se como aqueles cuja personalidade é cultivada.

Casos em que a personalidade prevalece sobre a essência
encontram-se frequentemente entre as pessoas cultas,
e a essência permanece então num estado de semi-crescimento ou de desenvolvimento incompleto.

É metade-pessoa.
Desse modo, quando há desenvolvimento rápido e prematuro da personalidade, o crescimento da essência pode praticamente deter-se em idade muito tenra, e o resultado é que vemos homens e mulheres de aparência adulta, cuja essência, porém, permaneceu  infantil.

Referência Psicologia da evolução possível  ao homem P.D. Ouspensky, discípulo de Gurdjieff

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Amigo é amigo. Psicólogo é psicólogo.

É verdade, amizade é terapêutica, ela nos protege, nos põe mais fortes... Mas, quando achamos que somos psy, ou que podemos fingir que somos, cuidado !





Duas amigas:
“- Ontem tive uma cena terrível com meu colega. A amiga faz silencio. Um tempo depois resolve abrir a boca e profetiza com olhar e o tom firmes de quem sabe o que diz: - Se você não analisar seu comportamento com ele, isto ficará sempre como está.”

Este diálogo fictício ilustra uma tendência muito atual e nociva – que consiste em passar-se por um analista de seus amigos: pretender conhecer melhor que eles suas necessidades, desejos e razões de seus atos, dar-lhes conselhos (que eles mesmos jamais seguem), ou ainda lhes escutando noite e dia, acreditando ajudar assim a sair de uma depressão. Ora, isto é bancar um psicólogo, um jogo e uma ilusão, - porque ser psicoterapeuta ou psicanalista não é improvisar.


Tipos de escuta incompatíveis
Certamente que nós somos às vezes enfermeiras, mamães de nossos amigos que atravessam fases difíceis. Também nos transformamos em ouvidos atentos ao deixá-los falar sem os interromperem. É um dever de amigo.

Mas a escuta empática do psicoterapeuta, que se cala para sentir profundamente as emoções do outro e ajudá-lo a compreender seu problema, é incompatível com a reciprocidade e a troca de uma relação amigável. A posição de analisar é muito dispendiosa psiquicamente. Apenas aprendendo psicoterapia se teria uma idéia do trabalho mental que o psicólogo faz, até que diz uma frase. Parece simples, mas não é.
Já um amigo é um outro si-mesmo. Não existe amizade sem igualdade
 Ao inverso, o psicólogo é um estranho que faz uma conexão analítica com o estranho inconsciente, para devolver ao cliente.
Um amigo diz o que pensa. O psicólogo pensa para dizer o que o cliente precisa e dá conta de ouvir naquele momento. Dispõe também de outros recursos que acontecem apenas no setting terapêutico.
Por isto que o jogo analítico não está à altura das exigências de uma verdadeira amizade.

- Mas eu tenho compaixão, e quero ajudar, você diria. Sim, existe a compaixão, que é a base do amor. Mas pode haver também a vontade do poder. Porque os psicólogos estudam para entender o comportamento humano, esta função é vista como saber e poder. Mas, atenção - sem formação terapêutica, a compaixão pode conduzir ao pior. Que fazer quando um amigo muito depressivo nos solicita em permanência, e nos faz testemunha de sua impossibilidade de viver?

Ser um verdadeiro amigo, é ter consciência de que não se pode lutar apenas com nossa boa vontade e encaminhá-lo para um profissional.


Os laços dependentes

Duas jovens de mais ou menos vinte anos conversam. Uma delas, quase às lágrimas, conta sua última ruptura amorosa. Ela se pergunta porque não consegue permanecer com um homem. O que é que não vai bem com comigo?- ‘É certamente porque assim que você consegue, você faz tudo para ele ir embora”, diz a amiga friamente, em vez de reconfortá-la. Quem diz isto para um amigo não sabe o estrago que faz. Ao invés de ajudar, mata o desejo. Pois bancar ‘aquele que sabe’ e jogar o papel de salvador são também invenções para tranqüilizar a si mesmo e esquecer seus próprios problemas.

Uma pessoa que espontaneamente confessa que duvida de si mesma para que os outros acabem se abrindo com ela, busca a posição de confidente privilegiado que é altamente valorizada.

É exatamente a situação de fulana, 55 anos, cercada de amigas que precisam dela. Esta mulher, que jamais fala daquilo que ela sente interiormente e que parece desprovida de problemas, é inesgotável quando se trata de evocar as desgraças de suas protegidas.
Ela cuida da história dos outros para continuar ignorando a própria. Precisa de amigas que vão mal para se sentir bem.

Um verdadeiro amigo eleva o outro. O verdadeiro laço amigável quer dizer ‘eu te gosto muito, eu quero o seu bem’. Ao contrário da dependência ele é um abrigo, um refúgio. Se ele protege, não é porque quer se prender ao outro em troca. Isto porque a dois, cria-se um espaço de cumplicidade
A amizade não quer render a desgraça, mas se faz presente e dedicada, ela permite aliviar o peso e abre as portas do apaziguamento.


As pessoas confidentes

Sem que elas tenham o menor desejo de ser terapeutas, certas pessoas suscitam as confidências. Sabem usar as palavras, as imagens mentais que nos permitem melhor nos compreender, de reagir quando estamos quase a nos afogar. É verdade que existem indivíduos que atraem os ‘dependentes’. Mais ou menos conscientemente nós vemos neles pais razoáveis, mães confiáveis, sobre quem transferimos nossas necessidades de conforto. Este tipo de atitude é geralmente o resultado de uma infância passada sustentando pais depressivos ou em sofrimento. Estes serão bons terapeutas, sem dúvida, se resolverem fazer sua formação.
“Amigo que me faz bem é aquele com quem posso rir de mim mesma e que suporta as minhas bobagens . Um verdadeiro amigo é aquele com quem eu posso ser eu, sem críticas e que me fala na hora se desagradei para não guardar rancor e envenenar a relação, que não precisa pedir desculpas toda hora. É quem está comigo nas horas tristes, mas que principalmente fica feliz com as minhas conquistas.”

Mesmo quando o amigo é psicólogo este tem relação de amigo com seus amigos. Psicólogo só o é no consultório. Ao amigo pode dizer o que pensa, mas sendo companheiro, antes de mais nada. Ele também necessita ter amigos, pois em consultório há outro tipo de relação.

Paradoxalmente talvez, quanto mais nossos amigos não tentam se passar por psicólogo, mais nós temos cumplicidade, prazer de compartilhar. Na ausência de julgamento, o poder terapêutico da amizade é mais forte.

Referencia Psychologies revue 304

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Perdas

A  morte  não  é  a maior  perda  da  vida.
A  maior  perda  da  vida é  o  que  morre dentro  de  nós enquanto  vivemos.
Referência Walcir