quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Aprendendo a se respeitar




Aprender a se respeitar é uma grande tarefa, porque começamos nossa existência com uma desvantagem fundamental.

Com efeito, muitos de nós fomos modelados desde muito cedo pelos desejos e medos dos nossos pais, condicionados por suas crenças, pelos valores e pressões de nosso meio ambiente, dominados pelas entidades políticas e econômicas fazendo com que nossa liberdade de escolha e de influência diminuísse e, mesmo às vezes, fossem reduzidas a zero.
‘Eu me sentia desrespeitado cada vez que a pessoa que me amava me ditava, com as melhores das intenções e com grande sinceridade – como eu deveria ser, o que deveria sentir, o que eu deveria falar.
Grande parte de minha vida eu tinha o sentimento de que tudo já estava preparado de antemão, que minhas próprias escolhas se modelavam sem meu consentimento, e que vinham dos que me cercavam.

Através desta conscientização comecei a me afirmar. Foi o nascimento de um respeito a mim mesmo.’

Se respeitar supõe correr riscos e se definir, de se posicionar, de se afirmar e mesmo de confronto com forças que não nos são sempre favoráveis.

‘Me lembro de que tinha medo de desagradar, de não mais ser amado, de ser rejeitado. Eu não contrariava ninguém. Me ajustava às posições daqueles dos quais eu esperava reconhecimento. Eu não me amava. Ao contrário, me desprezava e tinha uma imagem extremamente negativa de mim mesmo.
Pude me respeitar no dia em que reuni todos meus recursos e disse à minha mãe que eu não queria o lugar de seu marido em nossa família.’

Se respeitar começa sempre através de um conflito intrapessoal que passa depois a ser um conflito interpessoal.

‘Quando descobri que meu marido tinha aventuras fora de casa, comecei por acusá-lo. Precisei de vários anos para descobrir porque esta situação me machucava – simplesmente eu já estava acostumada a reagir assim: não sair do lugar e só ver a culpa do outro. Então pude tomar a decisão de me respeitar e não continuar numa relação que revelava minhas feridas antigas.’

Se respeitar supõe a capacidade de dizer ‘não’ e de correr o risco de magoar o próximo, pessoas significativas de nossa vida.
‘Quando ousei dizer ‘não’ a primeira vez ao meu pai, imaginei que ele queria me matar. Ele me olhou longamente e saiu sem uma palavra, batendo a porta.
Mas eu resisti.’

Se respeitar é aceitar eventualmente a frustração daqueles que nos cercam, quando demonstro que sou diferente e mostro minha alteridade.

‘Eu entendo bem seu ponto de vista, mas o meu é diferente e eu espero poder mostrá-lo não em oposição, mas em aposição.  Acrescento meu ponto de vista ao seu e fico com ele.’

Se respeitar é uma forma de amor ao olhar para si mesmo cada vez que fazemos ou dizemos aquilo que estamos de acordo e que aprovamos.
‘Eu não ousava jamais dizer que não queria fazer amor nas condições em que me encontrava, somente para agradar. Quando pude dizer me senti mais vivo, mais leve. Em seguida consegui perder 10 quilos nos meses que se seguiram.’

Se respeitar é uma lenta marcha de integração que não se manifesta numa simples vontade, mas que é um combate quotidiano. Se traduz pela solidão causada pela incompreensão e a dúvida de um meio ambiente que vive às vezes mal o nascimento de um novo ser. Um ser que de repente questiona seu próprio posicionamento de vida, os hábitos, as crenças e as escolhas dos que estão em torno de si.
Ter acesso ao respeito de si mesmo me parece ser um dos mais belos presentes que possamos nos dar em nossa vida.

Jacques Salomé - Psicólogo social e escritor

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

como?




  “Assim do nada. Um dia me senti tão, tão leve e feliz! coisa nova nos meus dias chuvosos - 
que fiquei apavorado. E se eu não voltasse mais daquilo? 
  

Era a liberdade tão desejada, saindo de dentro, 
mas eu quis voltar para o meu mundinho estreito, viciado, familiar.



.. como pude ter tanto medo de voar?”